Esta obra é um clássico da arquitetura que eu sempre quis visitar. Porém, lembro me de minha primeira impressão ao ver uma foto do ângulo mais conhecido. Empenas de concreto voltados para uma praça seca? Odiei o projeto por alguns poucos instantes até ver a terceira ou quarta foto..
Esta alternância de sentimentos é a mesma ao percorrer o espaço. Coisa única de obras ímpares, arquitetura poética. Mas este prédio não é apenas sentimento. Ele foi muito avançado técnica e artisticamente para a sua época. O impressionante conjunto de edifícios abriga um instituto de ciências biomédicas, algo como o Instituto Butantan daqui.
Tenho buscado desmistificar uma questão com que me deparei na universidade; de que os programas de necessidade complexos (como laboratórios, indústrias, hospitais) não são compatíveis com propostas arquitetônicas arrojadas. Na academia é notável a preferência ao estudo de residências, escolas e museus, quem sabe alguns estádios. Se a faculdade é o momento para projetar e aprender com os erros, trata-se de uma das melhores oportunidades de aprendizado.
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O Instituto em questão foi fundado por um dos descobridores da vacina da Pólio, Jonas Salk, em 1960 e sua construção iniciou em 1962. O Jonas Salk é para o Salk Institute como aqui no Butantan é o Vital Brazil, seus fundadores, pesquisadores pioneiros e importantíssimos para o desenvolvimento da saúde pública, incorporando conhecimentos à medicina e a biologia.
A parceria de Jonas Salk e Luis Kahn, rendeu o desenvolvimento deste instituto de renome, ao mesmo tempo belo e agradável para se trabalhar. Para eles arte e ciência não poderiam estar dissociadas. A intenção era atrair os melhores pesquisadores e pensadores do mundo, e desde então tem conseguido; frequentemente o Instituto é colocado no topo do ranking de instituições de pesquisa biomédica, e cinco dos cientistas treinados no Instituto receberam prêmio nobel.
Hoje o instituto emprega aproximadamente 850 pesquisadores, em 60 grupos de trabalho. Ele foi ampliado com um projeto que respeitou muito bem o conceito e o espaço do projeto original, sem interferir no mesmo (porém estas novas alas não serão apresentadas aqui)..
O conjunto foi setorizado de forma a possibilitar e “obrigar” o contato dos pesquisadores com o ambiente externo e a socialização ou convivência nos pátios e corredores. Este aspecto é fundamental e uma importante mudança na característica profissional da pesquisa: do isolamento em laboratórios.
As salas individuais dos pesquisadores-chefe (responsáveis por áreas de pesquisa) se localizam ao redor do grande pátio, inclinados, e com a melhor vista em direção ao mar. A praia não é exatamente em frente, mas fica próxima ao conjunto descendo o morro.
Os pesquisadores que vão trabalhar, se reunir, ou então se orientar com os professores em suas salas são obrigados à sair do bloco de laboratórios e passar pelas circulações; que são ‘abertas’ para o pátio mas protegidas do sol e chuva.
As duas alas opostas pelo pátio são interligadas por dois subsolos. A criação destes foi a alternativa utilizada para se adequar ao zoneamento mas que também manteve uma escala mais intimista ao conjunto.
As circulações verticais por escadas são localizadas nas laterais do pátio principal, junto às salas gabinete. Elas se integram aos fossos de ventilação, que formam ‘subpátios’ no subsolo. Tudo muito bem ventilado e iluminado (e nem se falava em sustentabilidade na época).
Os pavimentos das alas de laboratórios são duplos, de forma que um é de uso ‘efetivo’ dos cientistas e outro é o pavimento técnico. Juntamente com as torres de serviço (nas extremidades da edificação), estes pisos técnicos acomodam equipamentos e infraestruturas para o funcionamento dos laboratórios.
Cabe notar que isto em um projeto do início da década de 60 é uma inovação e tanto! Hoje este conceito é utilizado amplamente em edificações da área da saúde.
Ar condicionado, aquecimento, ventilação e exaustão, gases, vapores, água tratada, água gelada, quadros elétricos, equipamentos de automação, etc.. Tudo isso está posicionado nos pavimentos técnicos e, para manutenção não é necessário inutilizar os laboratórios.
Não é realmente estonteante? Para finalizar, uma foto com testemunhos em agradecimento ao arquiteto em uma das lousas espalhadas pelo pédio. Achei bem merecido.
Parabéns pela inclusão da matéria.
Sensacional o que com dinheiro, criatividade, sensibilidade e conhecimento técnico o homem pode fazer. Em qualquer época.
Concordo, Alexandre! Obrigado e abraços!